terça-feira, 30 de outubro de 2007

Igreja e Eutanásia...

Um artigo bem feito do prof. Daniel Serrão, explica os contornos de uma questão delicada e mal interpretada.

Ciclicamente agita-se, nos meios de comunicação social, a questão da eutanásia e sempre se torna necessário esclarecer as consciências dos cristãos sobre o que verdadeiramente está em causa.
Eutanásia é a morte deliberada e intencional de uma pessoa, a seu pedido, pela outra pessoa que recebe e acolhe o pedido. Se não há pedido não há eutanásia, há um homicídio comum. Se há pedido há também um homicídio, mas em resposta a uma vontade expressa pela pessoa que é assassinada.
Quando a pessoa está doente e solicita ao seu médico que a mate este não pode acolher este pedido, porque não é sua função matar o seu doente. Mas deve imediatamente acolher com respeito este pedido e dar a maior atenção aos motivos que levam aquele doente a desejar ser morto em vez de desejar viver.
Podem ser dores, e então a obrigação do médico é tratar as dores e hoje não há dores intratáveis. O doente sem dores não solicita a eutanásia.
Pode ser um sofrimento difícil de suportar. Então o médico com a ajuda do enfermeiro e de outros profissionais, designadamente psicólogos clínicos, porá à disposição do seu doente em desespero, todos os meios que permitem tornar suportável o sofrimento.
Pode ser um sentimento de esgotamento de qualquer projecto de vida que faz com que a pessoa, em dificuldades, prefira morrer a viver. Também este estado psicológico é susceptível de tratamento que consegue reconstruir a vontade de viver.
Por vezes o doente chega a estes estados por cuidados médicos a mais ou por cuidados médicos a menos.
Por obstinação terapêutica, em situações que já atingiram a fase da incurabilidade e estes cuidados a mais, desproporcionados, geram um grande sofrimento. A pessoa tem o direito de os recusar e de viver o seu período terminal em paz.
Pode não estar bem tratada,em especial das dores e do sofrimento e estes cuidados a menso criam estados de desespero e motivam pedidos de eutanásia. A pessoa tem direito a exigir que lhe seja prestado o tratamento próprio da fase terminal, que é o cuidado paliativo.
O cuidado paliativo é um cuidado especializado prestado por uma equipe de profissionais competentes nas várias disciplinas que o compõem. Pode ocorrer em unidades próprias, em áreas de hospitais de cuidados gerais ou no domicílio.
A evidência, onde existe o cuidado paliativo, é que o doente que está acolhido e tratado de todas as perturbações, físicas, psicológicas e espirituais que ocorrem na fase terminal da vida, não pensa em eutanásia, nem a pede nunca, porque compreendeu que a eutanásia não é a solução.
Para a Igreja Católica é esta a solução e já vão aparecendo unidades inspiradas por instituições com ligação à Igreja Católica. É preciso que se criem muitas mais e que a Igreja contribua para a formação do pessoal especializado necessário. No cuidado paliativo não há lugar para a recusa de cuidados extraordinários ou desproporcionados, que a doutrina católica, desde Pio XII, sempre reprovou, porque o cuidado paliativo não acelera nem atrasa o processo de morrer. O doente é acompanhado constantemente e todas as intercorrências são tratadas, sempre, com competência técnica e em tempo útil. Mas sem nenhuma orientação intensivista e de suporte artificial de funções vitais quando já só produz sofrimento e em nada beneficia o doente. Só é feito o que contribui para manter o bem-estar da pessoa até ao momento final.
No cuidado paliativo o processo de morrer é re-socializado, com um lugar importante à família e aos amigos que também são objecto do cuidado paliativo e são por isso participantes na criação de um estado de permanente bem-estar para a pessoa.
Uma pessoa que é “depositada” numa cama de hospital para morrer no maior abandono e esquecida dos cuidadores ou submetida a intervenções intensivas e inúteis, essa é candidata a pedir a eutanásia. Mas a eutanásia não é, nunca, a solução.
Em vez de proclamar que a eutanásia deve ser proibida ou permitida, a posição da Igreja é a de que ninguém esteja nunca em situação de pensar que a eutanásia é a solução para o seu desespero. Dizer que se mata por compaixão é, de facto, matar a compaixão.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Bento XVI apela à objecção de consciência: Farmacêuticos também devem ter o direito de não colaborar perante casos de aborto e de eutanásia…


O Papa defendeu hoje no Vaticano que a objecção de consciência "é um direito que deve ser reconhecido" também aos farmacêuticos nos casos do aborto e da eutanásia.
Recebendo no Vaticano os participantes do Congresso Mundial "As novas fronteiras do acto farmacêutico", o Papa pediu que estes profissionais possam ter a opção de "não colaborar directa ou indirectamente no fornecimento de produtos que têm como objectivo escolhas claramente imorais".
Entre as preocupações apontadas estão as substâncias que impedem "a nidificação de um embrião" (a chamada pílula abortiva" e as que procuram "abreviar a vida de uma pessoa".
"A vida deve ser protegida desde a sua concepção até à sua morte natural", indicou Bento XVI, pedindo aos farmacêuticos que desempenhem "um papel educativo com o paciente, para um justo uso dos cuidados médicos e, sobretudo, para dar a conhecer as implicações éticas da utilização de determinado fármaco".
“A procura de um bem para toda a humanidade não se pode fazer em detrimento do bem das pessoas tratadas" sublinhou ainda.
Tendo em conta as “implicações éticas” destes temas, o Papa deixou votos em favor de uma mobilização dos que trabalham nas diferentes profissões ligadas à saúde, católicos e “pessoas de boa vontade”, para que se aprofunde a formação, não só no plano ético, mas também no que diz respeito às questões bioéticas.
“O ser humano deve estar sempre no centro das opções biomédicas”, indicou.
Bento XVI defendeu também “a solidariedade no domínio terapêutico, para permitir um acesso aos medicamentos de primeira necessidade de todas as camadas da população e em todos os países, nomeadamente para as pessoas mais pobres”.
(Notícia AE)

Beatificações não são políticas...


O Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, defendeu hoje no Vaticano que a beatificação de de 498 fiéis martirizados na perseguição religiosa que teve lugar durante a Guerra Civil (1934-1939) não deve ser vista de um ponto de vista político.
Os mártires, indicou, "não foram propostos à veneração do povo de Deus pelas suas implicações políticas, nem para lutar contra quem quer que seja, mas para oferecer a sua existência como testemunho de amor a Cristo".
Os novos beatos são dois bispos, 24 sacerdotes diocesanos, 462 membros de Institutos de Vida Consagrada (religiosos), um diácono, um subdiácono, um seminarista e sete leigos. As beatificações acontecem no momento em que o projecto de lei da Memória Histórica deve ser votado esta semana pelo parlamento espanhol, que lembra as vítimas da guerra, bem como as do regime de Franco.
A Conferência Episcopal Espanhola (CEE) tem insistido na ideia de que os beatos da Igreja Católica não são "mártires da guerra civil" espanhola, mas "mártires da perseguição religiosa", evitando assim fazer da cerimónia uma homenagem a uma das facções envolvidas no conflito.
Particularmente significativos, nestes dias de festa espanhola no Vaticano (milhares de peregrinos estão ainda hoje nas ruas de Roma), foram os apelos à paz e à reconciliação.
Nas palavras que dirigiu aos fiéis reunidos na Basílica de São Pedro, antes do início da Missa desta manhã, o Arcebispo de Toledo e Primaz de Espanha, Cardeal Antonio Cañizares, voltou a frisar que os novos beatos são "um apelo premente à unidade, à paz, ao reconhecimento e ao respeito por cada ser humano, ao diálogo, à mão estendida, ao perdão e à reconciliação entre todos".
O Cardeal Bertone não deixou de falar das "circunstâncias históricas trágicas" que levam à "morte violenta" por causa da fé, mas frisou que os mártires "transcendem o momento histórico".
Nesse sentido, observou, "não são simples heróis ou personagens de uma época longínqua", mas "faróis" que ensina os crentes a viverem a vida da fé "perante uma cultura que procura afastar ou menosprezar os valores morais e humanos que são ensinados pelo próprio Evangelho".
Juntamente com dezenas de Cardeais, Bispos e sacerdotes, o Secretário de Estado do Vaticano centrou-se precisamente no significado religioso da maior celebração de beatificação da história da Igreja, pedindo que a mesma "suscite na Espanha um vigoroso chamamento a reavivar a fé".

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Morreu mestre dos vitrais de Taizé...


No dia 17 de Outubro, morreu em Taizé o irmão Eric, de 82 anos. A sua saúde tinha-se tornado muito frágil e uma pequena doença levou-o à morte em poucas horas.
Nascido em Genebra em 1925, Eric de Saussure estudou Belas-Artes em Paris e em Florença. Juntou-se em 1949 à Comunidade de Taizé, na altura ainda muito pequena. Viveu não apenas em Taizé, mas também nas fraternidades de irmãos na Argélia e nos Estados Unidos. Tinha grandes dons artísticos.
Através das suas criações, pinturas, águas-fortes, vitrais, foi um dos irmãos que despertaram a sensibilidade para a beleza, tão ligada à vocação de Taizé.
Os seus numerosos vitrais estão dispersos por todo o mundo. Entre eles encontram-se especialmente os das festividades cristãs na Igreja da Reconciliação. Devemos-lhe também o ícone da Cruz e o de Nossa Senhora, que desde há muitos anos apoiam a oração dos peregrinos em Taizé.
(N. Taizé)

Directa com Deus...


Na vida de estudante, são muitas as directas antes dos exames. Também depois, mas para festejar ou esquecer. Enquanto os exames não chegam, a directa foi “com Deus”.
A proposta partiu da Pastoral Universitária da Diocese do Porto e do Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de Loyola (CREU-IL), dos jesuítas: promover a noite XP para fazer uma “directa com Deus”. E a ideia “pegou”. Cerca de 700 universitários deixaram outros “programas” para a noite da última sexta-feira e caminharam pela cidade para o encontro com cada um, com o outro e com Deus.
O ponto de encontro foi na Alfândega. Depois, uma caminhada até ao cais da Ribeira para uma travessia de barco para o cais de Gaia, recordando os ensinamentos que Jesus propôs noutros barcos e para olhar a cidade a partir do rio. A subida à Serra do Pilar foi o ponto central de uma noite de caminhada, por acontecer aí a celebração da Eucaristia. Presidiu o Bispo do Porto, que caminhou com os jovens até este local e transmitiu aos universitários a certeza de que “só as coisas de Deus são eternas, como a Sua caridade”, modelo para a relação também entre jovens universitários. (…)
A mensagem, no entanto, não era a de muitas directas. Era a do Evangelho. “A experiência da relação e do acolhimento de Cristo vivo entre nós, que caminha connosco na nossa cidade, no nosso dia a dia, na vida de universitários e que se faz tudo isto que aqui fazemos: reflexão, oração, recolhimento, festa, encontro convívio, caminho”. Foram essas as emoções da noite XP.
(N.E.)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Mais que uma vida...


Hoje fui surpreendido! Algo de inesperado aconteceu de uma forma irreverente, simples, lógica talvez! Esse algo foi um acontecimento que me deixou pensativo, sim pensativo é o termo adequado! Mas ao mesmo tempo fraco... Triste por um lado e com uma réstia de luz e alegria por outro! O algo está ligado a alguém, e esse alguém, hoje, fez-me pensar... Contudo e por mais que tente descrever aquilo que estou a viver e a sentir, não consigo! De momento só me lembro da letra da canção dos Delfins: "Nasce Selvagem...", penso que define bem o meu algo e o meu algém de hoje!

Mais do que a um país
que a uma família
ou geração

Mais do que a um passado
Que a uma história
ou tradição

Tu pertences a ti
Não és de ninguém

Mais do que a um patrão
que a uma rotina
ou profissão

Mais do que a um partido
que a uma equipa
ou religião

Tu pertences a ti
Não és de ninguém

Vive selvagem
E para ti serás alguém
Nesta viagem

Quando alguém nasce
Nasce selvagem
Não é de ninguém

sábado, 20 de outubro de 2007

Ser missionário em família...


Testemunho de uma família que cresceu em missão Ad Gentes, e que em Portugal, vive ensinamentos aprendidos em Moçambique
O Dia Mundial das Missões é assinalado no próximo Domingo, dia 21 de Outubro. A missão Ad Gentes impulsiona pessoas para junto dos países sub desenvolvidos. Uma missão carregada de espírito, que quer dar o que se tem a quem tem pouco, ou viver aquilo que em Portugal não se encontra.
Ricardo e Elizabete Santos partiram em 2001 para Moçambique. Actualmente com 31 anos, Elizabete recorda a partida, na altura com 24 anos, três meses depois de ter casado, “num plano comum que tínhamos traçado”, explica à Agência ECCLESIA.
O projecto seria passar dois anos em Moçambique. Depois de um caminho no grupo de jovens leigos dos Missionários da Consolata, onde a reflexão sobre a missão para o laicado dava os primeiros passos, o jovem casal perspectivava a sua vida por dois anos.
O Instituto Português da Juventude, apoiava em 2001, alguns voluntários portugueses, que independentemente de não trabalharem para o Estado, iriam divulgar a língua portuguesa. Juntamente com Instituto Missionário da Consolata, iriam permanecer em Inhambane, na missão de Napinhane por dois anos. Ficaram quatro.
Licenciada em ensino, Elizabete Santos leccionou Matemática, no ensino secundário, numa escola privada das Irmãs Agostinianas, “que na altura trabalhavam com os missionários da Consolata”, ficando também responsável pela parte pedagógica da escola e pela formação de professores. Rica e na manutenção”. A catequese e os grupos de jovens foram tarefas que também assumiram, envolvendo-se assim na pastoral.
Na chegada a Moçambique, Elizabete Santos deu-se conta que era obrigada a parar. “O ritmo europeu é muito acelerado e contrastante com o africano”. O cumprimentar na rua que obriga a parar, “para estar com as pessoas, o parar para escutar as pessoas”, foi um factor marcante no princípio. Na sala de aula, os alunos estão “sedentos de aprender”, situação que contrasta com a portuguesa “onde tudo está disponível. Foi um trabalho muito gratificante”, aponta.
Neste período, ao todo de quatro anos, nasceram dois dos seus filhos - a Raquel e o Diogo. “Não tínhamos intenção de sermos pais em Moçambique”, adianta Elizabete. Ao partir, o projecto seria estar fora dois anos e quando voltassem seriam, então, pais. Mas em Moçambique “começamos a perceber que seria possível ter filhos lá, ter assistência pré e pós natal, e também porque gostaríamos de ficar mais tempo”.
Quando questionada sobre a vida dos seus filhos em Moçambique afirma prontamente que “a adaptação foi difícil em Portugal. Em Moçambique não, porque eles nasceram lá, estavam no seu meio, nunca tiveram dificuldade”.
As crianças “ajudaram-nos a ser missionários em família”, assume Elizabete Santos. A mais valia que encontra no projecto que abraçou foi dar testemunho enquanto família. “O povo moçambicano já valoriza muito a família”. Levar os filhos à eucaristia, rezar com eles, a forma como os educámos, eram tarefas normais e dentro da normalidade mostravam que os filhos eram iguais porque brincavam, comiam, viviam juntos, “os nossos filhos também foram missionários”.
Quatro anos depois de terem chegado à missão de Napinhane, partiram com os dois filhos para Niassa, para a missão de Mecanhelas. “Os nossos filhos ainda não precisavam de ir à escola e achámos que a nossa missão poderia ser prolongada por mais dois anos”, querendo conhecer outra realidade missionária.
A realidade encontrada, sendo no mesmo país, “era muito mais pobre”. No Sul, em Napinhane, “as pessoas estão mais despertas, têm um maior acesso a televisão ou rádio e estão mais ligadas a África do Sul”, factor que, de alguma forma, impulsiona o desenvolvimento. No Norte, em Mecanhelas “não havia televisão ou estradas alcatroadas, a cultura era muito diferente”. No entanto, a pobreza apelava a uma maior pureza nas pessoas, “que se entregavam mais rapidamente, não eram tão desconfiadas”, relembra.
Em Mecanhelas assumiu funções apenas de professora, e “enquanto tal tentava desenvolver o meu trabalho enquanto cristã”. O marido, estava mais ligado à missão, desenvolvendo trabalho nos seis lares da paróquia “que era muito grande”, e também noutros projectos na missão, entre financiamentos e ampliações.
Aqui permaneceram por dois anos, altura em que nasceu o Cristóvão, actualmente com um ano e meio.
Há oito meses em Portugal, as recordações são ainda muito vivas. “Lá há mais facilidades para se ser missionário, porque tudo à volta é trabalho e pede o nosso empenho”, afirma Elizabete - “somos missionários 24 horas por dia”. Também as pessoas são um convite à missão.
A experiência em Moçambique enquanto família “marca o que somos cá”, aponta. “Não podemos cair no consumismo, de dar tudo aos nossos filhos. Queremos manter o espírito de pobreza que conhecíamos”, afirma, não podendo ficar indiferentes ao que conheceram e à realidade que durante seis anos foi sua.
A Raquel, o Diogo e o Cristóvão são o motivo para eles não partirem. O partir em missão ficou lá atrás. “Neste momento não é mais possível. Os nossos filhos têm que estudar e não podemos ser egoístas e não pensar neles”, assume Elizabete Santos.
A sua ligação aos Missionários da Consolata não cessou. “Pertencemos aos Leigos Missionários da Consolata”, com cerca de 26 elementos espalhados pelo Norte e Centro do país. A Elizabete e o Ricardo estão a preparar um casal jovem que se prepara “também para casar e partir em missão”, continuando a fazer “uma movimentação entre os leigos para partir em missão”.
A realidade que conhece exige que, antes da partida a formação seja adequada. Partir em missão não pode ficar ao sabor do entusiasmo. “Os entusiasmos são bons para nos fazer tomar decisões”, aponta Elizabete, que afirma sentir falta de entusiasmo nos jovens.
Mas este impulso deve ser transformado em formação. “Não se pode enviar jovens baseados no seu entusiasmo sob risco de se estragar o trabalho missionário já desenvolvido no terreno”.
A missão ad gentes é assumida por diferentes pessoas, que levam a sua realidade para longe. Testemunhos diferentes e essenciais, não exclusivo de padres e irmãs consagradas, mas fruto de um trabalho deve também desenvolvido por jovens que durante um certo período da sua vida querem pensar mais nos outros.

(Notícia Agência Ecclesia)

Barcos Rabelos...

Gostava de partilhar convosco esta bela fotografia de dois barcos rabelos...

A “deontologia” do Estado...


O Governo quer ter uma palavra a dizer no Código Deontológico dos Médicos em matéria de aborto. Uma intromissão intolerável.
O poder político tem manifestado tendência para regulamentar um número crescente de actividades em Portugal.
As intervenções regulamentadoras do Estado podem ser necessárias para garantir o bem comum.
Mas, quando há exageros, a liberdade das pessoas e da sociedade civil fica lesada pela prepotência dos governantes.
Ora, com o Ministério da Saúde a impor à Ordem dos Médicos alterações ao seu Código Deontológico em matéria de aborto, atingiu-se um novo patamar de exagero na fúria regulamentadora governamental.
Claro que as leis da República têm de ser cumpridas, agradem-nos elas ou não.
Mas, uma coisa são as leis… outra a ética.
Se o Estado se arroga o direito de ditar a sua deontologia à sociedade civil e às suas instituições, algo vai mal na nossa vida pública.
É uma intromissão intolerável de quem parece querer ser dono da consciência dos portugueses...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Religiões: diálogo ou confronto


É vulgar dizer-se hoje que a religião constitui uma componente fulcral no panorama mundial. Muitas questões sociopolíticas aparecem ligadas a ela, da diplomacia ao terrorismo, das leis da vida e família ao urbanismo e imigração, à educação e saúde.
A religião não é apenas um fenómeno individual, mas é também um fenómeno social, assim sendo, senão há religião não há civilização, a religião faz parte do mundo e faz parte da liberdade humana.
E enquanto tal, ela constitui um elemento estruturante da civilização, por isso, deve cada vez mais se amadurecer a ideia de que todas as religiões podem convergir, particularmente por um desejo de paz mundial e na manifestação de uma nova era, marcada por um nível superior da consciência humana.
Portanto, penso que o caminho é o diálogo, embora o passado seja predominante marcado pelo confronto, há que definir o futuro, como um tempo novo onde o diálogo já não é o primeiro passo, mas sim o segundo, porque antes de existir o diálogo e a razão, tem de existir o encontro, para que se possam compreender as diferenças e as semelhanças das religiões.
Hoje, para que possa existir esse diálogo torna-se imperiosa e necessária uma base: o respeito, sem o qual não existirá qualquer forma de diálogo. A diversidade que formam e fundamentam as várias religiões há-de, pois, ser considerada como elemento não de dispersão, mas antes de riqueza e união na pluralidade, convergindo para um Absoluto.
No seio de toda esta problemática, torna-se cada vez mais presente a necessidade de criação de um espírito de fraternidade, para que possa existir esse diálogo inter-religioso simples, claro e verdadeiro. É fundamental o abandono de uma lógica de violência e de vingança, que parece estar impregnada ao abordarmos o tema do diálogo inter-religioso. Só quando for interrompida esta lógica, com o perdão e com o reconhecimento que todos somos irmãos, é que será possível construir um mundo de paz, mesmo na diversidade dos credos.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

O livro da minha vida...



Após um tempo que parecia em sonhos que não iria mais acabar, regressei! Regressei a um quotidiano vivo e permanente, onde por vezes os dias parecem uma repetição das semanas, as semanas uma repetição dos meses, e estes uma repetição dos anos...
Porém cada minuto é um respirar de um único Alguém que habita em nós, por vezes esse respirar é mais ofegante, outras vezes é mais ténue é mesmo assim o bater do coração humano...
No iniciar deste ano lectivo rezo em mim para que consiga ser fiel ao desafio interior desse único Alguém que habita em mim: Que eu consiga ser verdadeiramente puro de coração, ja que muitas vezes não é fácil para mim manter essa pureza...

As duas faces da convicção...

A religião sempre foi um elemento importantíssimo para todo o homem, contudo hoje está mais presente do que nunca, encontrei este artigo : do professor universitário João César das Neves que retrata muitobem esta realidade, achei-o muito interessante por isso decidi partilhá-lo convosco.


É lugar-comum dizer-se hoje que a religião constitui um elemento decisivo da situação mundial. Muitas questões sociopolíticas aparecem ligadas a ela, da diplomacia ao terrorismo, das leis da vida e família ao urbanismo e imigração, educação e saúde. Estranhamente, num tempo que se orgulha de ser científico, são esquecidos os resultados mais básicos da investigação séria sobre o tema. Por isso se dizem tantos disparates.
No livro de 1950 The Individual and his Religion (Mac Millan) e obras seguintes, o grande psicólogo americano Gordon W. Allport (1897-1867), fundador da psicologia da personalidade, introduziu aquela que é hoje a distinção mais influente neste tratamento científico. Os conceitos de "religião intrínseca e extrínseca" foram-se tornando a abordagem consensual e a base dos estudos empíricos sobre religiosidade. O modelo é complexo, mas as ideias fundamentais são fáceis de descrever. Religião intrínseca é a crença profunda, onde o fiel encontra a estrutura fundamental da sua existência, que dá significado à vida e em termos da qual tudo compreende. Religião extrínseca é a religião do conforto e da convenção social, que constitui um elemento auto-suficiente que satisfaz o sujeito. Na expressão hoje consagrada, a pessoa extrinsecamente motivada usa a sua religião, enquanto a intrinsecamente motivada vive a sua religião.
Note-se que esta distinção não separa crentes de agnósticos ou fervorosos de não praticantes. Ela manifesta-se apenas entre pessoas convictamente empenhadas na sua fé, mas com motivações distintas. Por vezes até são os extrinsecamente religiosos que se apresentam mais devotos e cumpridores, pois é normal que uma adesão espiritual seja comedida e modesta, enquanto o prosélito sociocultural usa de espalhafato. Mas no fundo ele adora a sua felicidade mais do que o Senhor da felicidade.
Como seria de esperar, Allport relaciona as duas atitudes com a personalidade e o seu grau de maturidade. Enquanto a religião intrínseca se encontra em pessoas equilibradas e sensatas, a extrínseca é própria dos caracteres mais inseguros e imaturos. Daqui saem várias consequências. A religião intrínseca relaciona-se com toda a vida, é integradora, unificante, orientadora. Pelo seu lado, a extrínseca é compartimentada, preconceituosa, exclusivista, dependente, instrumental, utilitária, reconfortante. Os religiosos conservadores costumam ser extrínsecos. Os intrínsecos são humildes.
Um efeito crucial, que o autor sublinhou desde o princípio e foi sucessivamente confirmado nos estudos, é que o fanatismo e intolerância surge muito mais na religião extrínseca. Se a crença suporta o modo de vida, posição social e costumes culturais, é normal reagir brutalmente perante os desafios. Assim, a maioria das críticas à religião refere-se a manifestações da variedade extrínseca. Na guerra e violência religiosa está em causa, antes de mais, a defesa das estruturas sociocomunitárias que os dogmas impregnam. Pelo contrário, viver a vida numa entrega total ao Sublime leva a suportar com bonomia as contrariedades e a simpatizar instintivamente com os que fazem o mesmo noutros cultos. Estas ideias vêm de um modelo científico que, dotado de escalas avaliativas, permite observações rigorosas e deduções consistentes. Mas ao mesmo tempo elas constituem velhas constatações de sempre. Encontramo-las nos debates entre Cristo e os fariseus, como em inúmeras passagens dos Analectos, de Confúcio, dos Hadith, de Maomé, e tantos outros. Mas elas são também essenciais para compreender os vários fenómenos espirituais recentes, pois o sucesso das novas seitas e movimentos esotérico-religiosos deve-se ao facto de, em geral, prometerem uma crença de conforto e bem-estar, sem conversão ou penitência.
Mesmo fora do âmbito estrito da religião, muitos partidos e ideologias sabem bem como, entre os seus correligionários, existem os que entregam a sua vida à doutrina e os que fazem dela modo de vida. "Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração" (Mt 6, 21).