sábado, 20 de outubro de 2007

Ser missionário em família...


Testemunho de uma família que cresceu em missão Ad Gentes, e que em Portugal, vive ensinamentos aprendidos em Moçambique
O Dia Mundial das Missões é assinalado no próximo Domingo, dia 21 de Outubro. A missão Ad Gentes impulsiona pessoas para junto dos países sub desenvolvidos. Uma missão carregada de espírito, que quer dar o que se tem a quem tem pouco, ou viver aquilo que em Portugal não se encontra.
Ricardo e Elizabete Santos partiram em 2001 para Moçambique. Actualmente com 31 anos, Elizabete recorda a partida, na altura com 24 anos, três meses depois de ter casado, “num plano comum que tínhamos traçado”, explica à Agência ECCLESIA.
O projecto seria passar dois anos em Moçambique. Depois de um caminho no grupo de jovens leigos dos Missionários da Consolata, onde a reflexão sobre a missão para o laicado dava os primeiros passos, o jovem casal perspectivava a sua vida por dois anos.
O Instituto Português da Juventude, apoiava em 2001, alguns voluntários portugueses, que independentemente de não trabalharem para o Estado, iriam divulgar a língua portuguesa. Juntamente com Instituto Missionário da Consolata, iriam permanecer em Inhambane, na missão de Napinhane por dois anos. Ficaram quatro.
Licenciada em ensino, Elizabete Santos leccionou Matemática, no ensino secundário, numa escola privada das Irmãs Agostinianas, “que na altura trabalhavam com os missionários da Consolata”, ficando também responsável pela parte pedagógica da escola e pela formação de professores. Rica e na manutenção”. A catequese e os grupos de jovens foram tarefas que também assumiram, envolvendo-se assim na pastoral.
Na chegada a Moçambique, Elizabete Santos deu-se conta que era obrigada a parar. “O ritmo europeu é muito acelerado e contrastante com o africano”. O cumprimentar na rua que obriga a parar, “para estar com as pessoas, o parar para escutar as pessoas”, foi um factor marcante no princípio. Na sala de aula, os alunos estão “sedentos de aprender”, situação que contrasta com a portuguesa “onde tudo está disponível. Foi um trabalho muito gratificante”, aponta.
Neste período, ao todo de quatro anos, nasceram dois dos seus filhos - a Raquel e o Diogo. “Não tínhamos intenção de sermos pais em Moçambique”, adianta Elizabete. Ao partir, o projecto seria estar fora dois anos e quando voltassem seriam, então, pais. Mas em Moçambique “começamos a perceber que seria possível ter filhos lá, ter assistência pré e pós natal, e também porque gostaríamos de ficar mais tempo”.
Quando questionada sobre a vida dos seus filhos em Moçambique afirma prontamente que “a adaptação foi difícil em Portugal. Em Moçambique não, porque eles nasceram lá, estavam no seu meio, nunca tiveram dificuldade”.
As crianças “ajudaram-nos a ser missionários em família”, assume Elizabete Santos. A mais valia que encontra no projecto que abraçou foi dar testemunho enquanto família. “O povo moçambicano já valoriza muito a família”. Levar os filhos à eucaristia, rezar com eles, a forma como os educámos, eram tarefas normais e dentro da normalidade mostravam que os filhos eram iguais porque brincavam, comiam, viviam juntos, “os nossos filhos também foram missionários”.
Quatro anos depois de terem chegado à missão de Napinhane, partiram com os dois filhos para Niassa, para a missão de Mecanhelas. “Os nossos filhos ainda não precisavam de ir à escola e achámos que a nossa missão poderia ser prolongada por mais dois anos”, querendo conhecer outra realidade missionária.
A realidade encontrada, sendo no mesmo país, “era muito mais pobre”. No Sul, em Napinhane, “as pessoas estão mais despertas, têm um maior acesso a televisão ou rádio e estão mais ligadas a África do Sul”, factor que, de alguma forma, impulsiona o desenvolvimento. No Norte, em Mecanhelas “não havia televisão ou estradas alcatroadas, a cultura era muito diferente”. No entanto, a pobreza apelava a uma maior pureza nas pessoas, “que se entregavam mais rapidamente, não eram tão desconfiadas”, relembra.
Em Mecanhelas assumiu funções apenas de professora, e “enquanto tal tentava desenvolver o meu trabalho enquanto cristã”. O marido, estava mais ligado à missão, desenvolvendo trabalho nos seis lares da paróquia “que era muito grande”, e também noutros projectos na missão, entre financiamentos e ampliações.
Aqui permaneceram por dois anos, altura em que nasceu o Cristóvão, actualmente com um ano e meio.
Há oito meses em Portugal, as recordações são ainda muito vivas. “Lá há mais facilidades para se ser missionário, porque tudo à volta é trabalho e pede o nosso empenho”, afirma Elizabete - “somos missionários 24 horas por dia”. Também as pessoas são um convite à missão.
A experiência em Moçambique enquanto família “marca o que somos cá”, aponta. “Não podemos cair no consumismo, de dar tudo aos nossos filhos. Queremos manter o espírito de pobreza que conhecíamos”, afirma, não podendo ficar indiferentes ao que conheceram e à realidade que durante seis anos foi sua.
A Raquel, o Diogo e o Cristóvão são o motivo para eles não partirem. O partir em missão ficou lá atrás. “Neste momento não é mais possível. Os nossos filhos têm que estudar e não podemos ser egoístas e não pensar neles”, assume Elizabete Santos.
A sua ligação aos Missionários da Consolata não cessou. “Pertencemos aos Leigos Missionários da Consolata”, com cerca de 26 elementos espalhados pelo Norte e Centro do país. A Elizabete e o Ricardo estão a preparar um casal jovem que se prepara “também para casar e partir em missão”, continuando a fazer “uma movimentação entre os leigos para partir em missão”.
A realidade que conhece exige que, antes da partida a formação seja adequada. Partir em missão não pode ficar ao sabor do entusiasmo. “Os entusiasmos são bons para nos fazer tomar decisões”, aponta Elizabete, que afirma sentir falta de entusiasmo nos jovens.
Mas este impulso deve ser transformado em formação. “Não se pode enviar jovens baseados no seu entusiasmo sob risco de se estragar o trabalho missionário já desenvolvido no terreno”.
A missão ad gentes é assumida por diferentes pessoas, que levam a sua realidade para longe. Testemunhos diferentes e essenciais, não exclusivo de padres e irmãs consagradas, mas fruto de um trabalho deve também desenvolvido por jovens que durante um certo período da sua vida querem pensar mais nos outros.

(Notícia Agência Ecclesia)

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